Há dois caminhos na arte global contemporânea que se encontram harmoniosamente. Um é o teórico; o outro, o prático. O teórico prega uma espécie de democracia das ideias e pretende o nascimento de uma inteligência coletiva absoluta em substituição à tão anunciada morte do gênio. A criação, para os ideólogos desse caminho, é um processo de reapropriação artística. O prático move bilhões de dólares numa acirrada competição, digna do mais exemplar capitalismo, que faz os megainvestidores -– entre eles, os estados -- caírem como patos no milho, porque ambicionam o retorno publicitário ou o do investimento, com riscos permanentes de consolidarem bolhas, como é fato no mercado de arte internacional.
O artista -- na concepção desses teóricos -- encontra pronto o substrato para a sua criação nas obras elaboradas por outros, e é nesse veio que ele surfa nas ondas das ideias. Ele pode se apropriar de um som, uma forma,uma imagem, palavras, isto é, a criação circula deixando sempre o seu rastro para que outros ainda possam utilizar desse material produtivo. A isso, o escritor e crítico britânico Nicolas Bourriaud chamou de pós-produção, usando, assim, um termo do âmbito do cinema, da televisão, do vídeo, etc. -- o qual reúne todas as etapas técnicas -- para explicar o processo criativo atual. Segundo Bourriaud, na arte contemporânea, “é possível produzir uma obra musical sem saber tocar uma única nota, utilizando discos existentes”.
Os teóricos fornecem o respaldo e o charme para por em circuito nomes de artistas que se tornam verdadeiros mitos no mercado de arte, que movimentam milhares de dólares para si e para os cofres dos seus mercadores, que também partilham dos lucros. A exemplo dos artistas Jeff Koons (americano) e Damien Hirst (britânico), que se tornaram verdadeiros magnatas, construindo, assim, uma nova modalidadede artista. É essa harmonia que impera entre a teoria aparentemente democrática e o capitalismo escancarado que submete todas as forças ao redor, como a mídia, a crítica, os galeristas, os marchands e até mesmo o público, que, naturalmente, é influenciado por esse poder avassalador do convencimento pela intensa publicidade. No mundo, há um início de despertar quanto a essas máscaras na arte, numa resistência através de artigos, livros e debates, o que certamente proporcionará meios para um possível renascimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário