"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Incentivos culturais


Vivemos num país emergente onde o lema é a deficiência. A começar pela elite política, que, quase sempre, legisla em causa própria. Um governo que cobra os impostos mais altos do mundo, sem investimentos consideráveis na saúde e na educação, porque, claramente, não vemos os resultados; a Justiça caminha como uma tartaruga; a segurança pública não domina os crimes perpetrados nas ruas; e a traficância de drogas imperante destrói a juventude.  Mas surgem personagens do poder a defender o castelo de trevas. Nesse sistema, o Ministério da Cultura faz a cena à custa dos inventores culturais, que privilegia alguns destes em detrimento de outros, como o financiamento de um site de mais de um milhão de reais, e filme pago antecipadamente...

Para nós, artistas e produtores, os incentivos culturais disponíveis nos municípios, nos estados e no âmbito federal são verdadeiros obstáculos. Além da deficiência natural, são somadas as imensas dificuldades criadas para os produtores culturais, que têm que ter um capital sólido para poder investir no próprio projeto, porque, após a sua aprovação, vem a via crucis interminável da burocracia cultural. No mensalão, em que foram disponibilizados cerca de milhões de dólares e reais, não havia tanta burocracia, era só o político dizer que ia apoiar o governo e, então, as maletas, as cuecas se enchiam de cédulas, tão simples e natural. Conheço produtores que investiram suas economias nos eventos pelos quais foram responsáveis e ainda estão para receber dinheiro dessas fundações culturais, e estas não lhes dão esperança nem satisfação sobre o fato.
 
Seria importante mudar essa política cultural a partir do Ministério da Cultura, porque há um excesso de exigências que impede qualquer empreendimento nesse âmbito; o contrato é assinado em cima da hora; os produtores e os artistas investem um dinheiro significativo para não deixar de cumprir os compromissos para realizar uma manifestação cultural. Os governos municipais e estaduais também não fogem ao padrão. Na verdade, para realizar um projeto aprovado por qualquer desses meios oficiais tem que ter capital para poder manter os compromissos. Se não o tiver não poderá concretizá-los. Creio que isso não significa incentivo cultural.  

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Os dólares da arte


Um dos artistas ingleses que participou da famosa exposição “Sensation”, realizada em 1997, na Royal Academy of Arts, em Londres, Damien Hirst, com a curadoria da mostra assinada pelo empresário da publicidade e, hoje galerista Charles Saatchi, tem, segundo o “Sunday Times”, de Londres, uma fortuna estimada em U$ 350 milhões, construída com os seus truques de mercado através de uma verdadeira máquina de vendas. A grande estratégia do artista de 47 anos foi convencer os seus seguidores a desembolsar milhões por provocações criadoras, tais como vivisseccionar animais; usar bitucas de cigarros nas obras; apresentar um crânio humano fundido em platina e cravejado de diamantes; e uma das mais famosas: um tubarão conservado em formol, vendida simplesmente por U$ 12 milhões ao bilionário Steve Cohen, que é obrigado a preservar a obra em refrigeração, já que quase a perdia porque o formol não estava dando conta do trabalho de conservação.

Até onde essa máquina irá funcionar retirando essas quantias dos bolsos de quem tem muito e não sabe o que fazer? Alguns especialistas dizem que expor um Hirst, como propriedade cultural dá visibilidade ao comprador, o faz distinguir-se entre os simples colecionadores, pois se supõe que está acima de todos os consumidores da arte contemporânea. Então não se leva em conta aí o gosto, a admiração da obra por si; só, no caso, o nome do artista e a sua projeção nas façanhas financeiras no mercado.

Mas mesmo assim, com todo esse poder do artista no mercado de arte, na queda do banco americano Lehman Brothers, em 2008, as suas obras foram atingidas pela bolha financeira e começaram a cair na cotação dos preços, embora haja entre os colecionadores mais sólidos uma busca por artistas que possam garanti-los quanto ao investimento, a exemplo de Gerhard Richter, um artista alemão, considerado um dos mais cotados atualmente, alcançando o preço de U$ 34 milhões, um valor extraordinário por se tratar de um artista vivo. Também estão à procura dos Pollocks, Warhols, Rothkos, Bacons.
Gerhard Richter

Agora, o martelo dos leilões internacionais bate para as obras de Damien com o preço bem menor ao que alcançava no pico do mercado, mas continua como a grande estrela, só que em lenta queda...