"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Signos de Miró

                                                            Miró e sua obra

Joan Miró (1893–1983) é um daqueles artistas do século XX que se distinguiram por terem uma personalidade única e notada logo no início do seu percurso. Escolheu cedo o que deveria ser, contrariando a vontade do pai, que gostaria que o filho tivesse o mesmo caminho dele, como ourives próspero. O avô paterno, com mesmo nome do pintor, era um ferreiro. E, do lado materno, marceneiro. Herdeiro, então, pelas duas raízes, das tradições de habilidades manuais, que lhe davam, naturalmente, suporte para mergulhar na matéria ilimitada do poder da sua arte, que encantaria o mundo e permaneceria um dos ícones da história da cultura plástica universal.

Apesar de ter frequentado, em Barcelona, a Escola de Belas Artes — a mesma que anteriormente Picasso assombrou com talento precoce —, Miró tinha uma maneira de representar as coisas que as academias não poderiam lhe dar. Nas primeiras pinturas, já havia as marcas das futuras obras que iria realizar. Não lhe interessava a representação natural das coisas, ele buscava algo que estava, talvez, no subconsciente. Nesse período, a ligação passageira foi com o impressionismo, o expressionismo, o fauvismo e com uma ponta do cubismo, mas sempre de modo próprio. Considerava que a natureza estava dentro dele, deveria partir das manifestações internas. Além disso, o arquiteto Antoni Gaudí foi uma inspiração permanente para sua geração.  Uma das obras mais representativas desse período é “A quinta” (1921/1922), entre outras, como “Caminho de El Guel” (1917), “Autorretrato” (1919), “Jardim com um burro” (1918), “Retrato de E.C. Ricart” (1917), “A vereda, Ciurana” (1917).

Mas o fundamental encontro foi com o surrealismo, em Paris, na década de 1920, principalmente porque o artista conviveu com André Masson — os dois compartilhavam ateliês separados apenas por uma divisória —, que o apresentou aos poetas do movimento, como André Breton, Louis Aragon e Paul Éluard, e, posteriormente, ao ator Antonin Artaud, que o influenciou nas ideias. Todos eles impressionados com a obra do artista catalão, de baixa estatura, tímido, mas com um espírito de fogo criativo que penetrou em todas as linguagens: na pintura, na gravura, na cerâmica, na escultura... Um artista que ultrapassou os limites da imaginação com monumentais obras na Espanha, nos Estados Unidos da América, na França... Legado incontestável de um gênio.

domingo, 7 de junho de 2015

A fotógrafa

                                                               Roberta Meira Lins

O olhar da fotógrafa Roberta Meira Lins tem como base a tríplice força necessária que impulsiona o ato criador de um artista: a sensibilidade, a cultura e a inteligência. A sensibilidade fornece elementos para perceber o mundo de forma própria, transfigurando-o com as teclas, vamos dizer, musicais, que mostram as coisas sob vários aspectos. A cultura dá ao seu olhar a percepção do que pretende captar; possui informações que a fazem lembrar a história, os criadores de que tem conhecimento e, principalmente, as raízes da sua terra. Nesse quesito, a fotógrafa teve o privilégio de conviver, na infância e adolescência, com as obras da coleção do seu avô materno, Albino Gonçalves Fernandes — psiquiatra culto que mantinha amizade com Vicente do Rego Monteiro e foi um dos retratados pelo pintor —, que, em sua pinacoteca, tinha quadros de Cícero Dias, Lula Cardoso Ayres e de outros artistas plásticos internacionais... Além disso, a casa era frequentada por escritores e pensadores. A inteligência a deixa aguda para poder alcançar os objetivos da arte, naturalmente, os requintes da técnica, do mote a ser trabalhado e do seu processo de desdobramento. Elegeu a arte da fotografia como expressão e entende que essa linguagem é ponta de lança nas concepções contemporâneas. Nada se perde em seu percurso, tudo se concretiza e se transforma em obras que são produto da sensibilidade, da cultura e da inteligência.

A fotógrafa tem um currículo considerável de imagens que a consolida como uma das mais significativas artistas no âmbito da fotografia em Pernambuco. E em Paris, ainda este ano, participará de uma exposição coletiva de fotógrafos selecionados, numa das instalações do Museu do Louvre. Agora, escolheu um tema que lhe foi e está muito próximo: a praia de Porto de Galinhas. Conheceu esse recanto do litoral sul do Estado no tempo em que frequentava, com a sua família, a praia mais deserta e quase primitiva. Talvez nessas recentes fotografias tenha um pouco de autobiografia, a lembrança das coisas simples e verdadeiras que envolvem aquele paraíso notado e divulgado em todo o planeta. Faz questão de mostrar os pescadores em suas atividades diárias na pesca e na condução de jangadas com velas largas, brancas ou de várias cores, luminosas, num límpido mar e no céu expressivo em sol pleno e com nuvens tropicais. São fotografias que encantam e enriquecem o olhar e a memória do espectador.