"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand

sexta-feira, 18 de março de 2016

Leonardo e Michelangelo




Da Vinci e Michelangelo competiam em suas visões geniais sobre a arte. O primeiro, de modos delicados, elegante, um espírito enriquecido de pesquisas infindáveis que entendia a pintura como ciência e como a maior de todas as artes, acima da poesia, da escultura, e a música acima destas. Vinte anos mais velho que o escultor florentino. Segundo o artista, a sua obra-prima, a Gioconda, representava seu pensamento sobre a pintura, porque, dela, extraiu a supremacia da arte, pondo a expressão do sentimento humano na face do modelo e vida ao fundo, representando o cosmos, a elevação das montanhas, a vibração das águas, das plantas, tudo envolvido em luz e sombra, o que anteciparia os conceitos do impressionismo. Colocou o conhecimento científico paralelo à sua arte. Dizia que a pintura é “coisa mental”, afirmando, com isso, que, ao pintar qualquer coisa do universo, antes ela passa pela mente, pelo espírito, e, depois, é consolidada pelas mãos. Um cientista combinado com as potências de um demiurgo.    

Michelangelo era uma tempestade andante, vestia-se mal; era solitário, feio, irascível, difícil para qualquer aproximação. Trabalhava como uma máquina, obsessivo, e, após longas sessões no trabalho escultórico, dormia sobre o pó do mármore ou ali mesmo onde estava a pintar um afresco, como na Capela Sistina. Ninguém lhe dobrava a vontade; mesmo o papa Júlio II teve muito trabalho ao conviver com o artista e lhe solicitar as obras que o escultor deixou como patrimônio à humanidade. Conta-se que, em 25 de janeiro de 1504, em Florença, 28 notáveis da pintura e da arquitetura, como Botticelli, Perugino, incluindo Da Vinci, se reuniram para dar um destino à monumental escultura Davi – chamada de O Gigante, pela sua altura e grandeza. Ao analisar a escultura, Leonardo realizou um desenho demonstrando como a obra deveria apresentar a sua forma, indicando que existiam algumas desproporções entre a cabeça e o corpo e a exposição da genitália, que foi um assunto polêmico na cidade...  

Diz um cronista do século XVI que Da Vinci passava na Piazza Santa Trinità, onde estava reunido um grupo de pessoas a discutir um trecho de Dante, e solicitaram a ele que interpretasse uma parte enigmática. No mesmo momento, passava Michelangelo, e o pintor chamou a atenção dos cavalheiros para que convocassem o escultor. E aí Michelangelo devolveu: “Explica-a tu, que fizeste um desenho de um cavalo para ser moldado em bronze, mas foste incapaz de moldá-lo”.