"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O colecionador no mercado de arte

No Modernismo nas artes plásticas — período que compreende o Impressionismo, o Pós-Impressionismo, o início do século XX e todos os movimentos relevantes até a década de 1960 —, o artista centralizava esse universo como um sol, e, ao redor, estavam os planetas que participavam da sua luz, como os marchands, galeristas, colecionadores, críticos de arte, curadores, jornalistas culturais e diretores de museus. Picasso, Matisse e os artistas que construíram seus percursos luminosos foram os protagonistas dessa época e permaneceram na história da arte. Hoje, o processo é outro: o suposto sol e a sua luz foram dissolvidos em uma rede, na qual esses astros brilham na trama com a mesma intensidade múltipla, excedendo-se, alguns deles, quando tentam ultrapassar os seus limites para alcançar o prestígio de criador — que, antes, era de domínio exclusivo do artista —, como os curadores mais ousados.

Mas, entre os atores que atuam no mercado de arte internacional, o colecionador se destaca. Esse personagem, milionário ou bilionário, alimenta toda uma estrutura onde os marchands fazem reverência aos seus interesses, os críticos também vão nesse barco, e aí entram revistas importantes, como a Artforum; jornais britânicos e norte-americanos; feiras; leilões; museus: todos procuram servi-lo e ao privilegiado grupo financeiro a que pertence. Os importantes marchands e galeristas em Nova York e Londres — metrópoles que lideram o mercado — iniciaram como colecionadores, a exemplo de François Pinault, dono da casa Christie’s; Victoria Miro, da Victoria Miro Gallery; Charles Saatchi, com a Saatchi Gallery; e Larry Gagosian, da Gagosian Gallery; entre outros badalados no meio.

Nos leilões e nas feiras, o colecionador geralmente é reconhecido e tratado com distinção, como um participante que sabe adquirir obras com independência, criando até estilo e influenciando um leque de marchands, críticos de arte e jornalistas culturais. Também não se importa com as críticas publicadas em revistas e jornais. Ele dá a última voz, e são os seus milhares de dólares que fazem tendências, elevam ou baixam o preço de um artista e dimensionam a sorte dos mercadores da arte. É extremamente refinado, culto, transparece com suas coleções o que pensa sobre arte e segue o próprio roteiro com determinação religiosa. É imbatível na escolha, que poderá afetar a vida financeira no mercado em poucos minutos de sua ação. Talvez a cultura e a tradição dos países desenvolvidos propiciem a formação do colecionador.

No Brasil, existe esse personagem, mas não na dimensão com que atua no mercado internacional. Mais ainda: especificamente no Nordeste do País — mesmo tendo os que se destacam como bons colecionadores —, estes são poucos. É preciso tempo para desenvolver o olhar do aficionado em arte, porque depende de toda uma história consolidar agudos e permanentes colecionadores.