Montez Magno é um dos pilares da arte em Pernambuco e se insere na história dos movimentos conceituais e plásticos do Brasil, junto a uma geração de artistas – como Hélio Oiticica, Lygia Clark, Antônio Dias, Lygia Pape, entre outros – que proporcionaram um rumo de ideias que, até hoje, influencia os jovens artistas. É um dos precursores em pensar a arte como veículo múltiplo de expressão na Região Nordeste e no país, com afinidades duchampianas, como ele próprio disse: “Penso a arte 24 horas ao dia”, como a demonstrar que trabalhar a arte é, acima de tudo, pensamento e reflexão.
A sua obra foi construída numa complexidade de circuitos que se entrecruzam na concepção. O artista, além de mergulhar nas obras conceituais contemporâneas, sendo ele próprio um dos artistas pensadores, integra-se na percepção sobre a genialidade de pintores como Morandi, Balthus ou sobre os baluartes do Renascimento ou tão somente sobre a pintura como investigação; essa captação entre artistas e obras lhe é substrato para estudos e exercícios estéticos. Ao se deparar com duas obras de Morandi na Fundação Peggy Guggenheim, em Veneza (1964), ficou tão fascinado que, ao vê-las “lá no fundo, todo o resto eclipsou-se”. A partir desse contato, segue-se a bela série Morandi, em tonalidades que sugerem uma harmonia musical, orquestrada por composições simples que diz da sua visão sobre o artista italiano, por quem expressa admiração permanente. Mas a cultura nordestina foi também fonte para uma das mais importantes obras de sua autoria — Barracas do Nordeste —, que capta o imaginário popular nas suas “diversas modalidades de expressão abstrato-geométrica”, série que repercutiu, na concepção geométrica, nos trabalhos de vários artistas na década de 1970, como Bete Gouveia, Isa do Amparo, Eudes Mota, Fernando Lins e outros.
Penso que a sua influência ainda permanece, porque parte das manifestações dos artistas jovens em Pernambuco reflete, mesmo inconscientemente, um laivo do aspecto inventor de Montez Magno, como nas obras Objeto Especular (1972), Mesa Tantra (1972), A Última Partida (1972), Autoxequemate (1973), a série Tacos (1993), a série Mastros (1994), a série Fachadas do Nordeste (1996), entre outros trabalhos pioneiros na concepção contemporânea que hoje se alardeia como uma novidade ímpar.
O livro Montez Magno – recentemente publicado pelo Mamam, organizado por Clarissa Diniz, que assina um excelente ensaio crítico panorâmico da obra do artista, e com a participação de outros textos dos críticos Paulo Herkenhoff, que toca em aspectos relevantes da sua obra e nos pontos de convergências com os seus contemporâneos, e Luiz Carlos Monteiro, que aborda a sua poética discursiva e visual – já é um patrimônio cultural por se tratar de um dos artistas e inventores mais destacados da história contemporânea da arte brasileira.
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