"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand

sábado, 23 de novembro de 2013

Lendas na arte



Os artistas, geralmente, gostam de construir suas próprias lendas. Entre os exemplos internacionais, Paul Gauguin era célebre nesse aspecto. Disse-se um selvagem e que essa sua maneira de ser tinha heranças no Peru. Da sua avó materna. Seu nome era Flora Tristán (1803–1844), uma mulher revolucionária para o seu tempo. Talvez Gauguin a citasse por ser da América Latina, lugar tão distante do mundo civilizado e, provavelmente, à época, interpretado como continente ainda cheio de selvagens. Mas, quando foi para o Taiti, ele quis ser o selvagem dos selvagens. O que ficou foi o seu gênio e páginas na História da Arte.

Paul Cézanne: ninguém lhe tocava o ombro, era proibido. Ele se sentia invadido pelo simples toque. Era duro como uma pedra, passava pelas pessoas e não as cumprimentava se fossem indesejadas para o seu olhar e concepção de vida. Considerava-se um incompreendido. Um isolado. E o era. Mas tão revolucionário que influenciou toda uma geração posterior.

Van Gogh queria ser o missionário dos pobres oprimidos, mas desandou e se tornou o pai do expressionismo, com a orelha cortada. Ficou o mito de que era um dos artistas miseráveis do seu tempo, mas era sobrinho dos maiores comerciantes de arte da Europa, seu homônimo Vincent van Gogh, o tio Cent Van Gogh, só que não vendia, de fato, obra alguma através dele. O irmão do pintor, Theodorus van Gogh — o Theo das infindáveis correspondências —, agente comercial importante de uma das mais fortes galerias de arte, a Goupil & Cie, com filiais espalhadas em muitas capitais europeias, mandava-lhe uma mesada que dava para alugar uma casa, comprar comidas, tintas, pagar prostitutas, bebidas (absinto principalmente), etc. E hoje tem o maior museu dedicado a um só artista, ainda bem! A obra prevaleceu.

Sabe-se que Picasso era reconhecido como uma esponja da criação alheia, mas com classe. Havia alguns artistas que cobriam suas obras nas visitas do incontestável gênio. Não que ele copiasse, simplesmente, mas retirava a essência do outro. Ele só encontrava um concorrente forte, que era Matisse. Os dois se amavam e competiam ao mesmo tempo. A admiração era mútua. Mas quando Picasso saía do ateliê de Matisse dava alguns sinais, nas pinceladas, do francês; e Matisse, algo do espanhol. E são os dois gênios de maior repercussão na História da Arte do século XX: criaram movimentos e obras que permaneceram concretas para o olhar crítico da humanidade.


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Investidores de arte

                                                             Fernando de Noronha

O personagem colecionador sempre foi importante para o mercado de arte. Tem um olhar agudo e refinada cultura. Adquire uma obra porque aprecia os seus valores intrínsecos. E são estes que os comerciantes de arte valorizam, porque compram para incorporá-la ao seu convívio permanente, deixando para os seus herdeiros um patrimônio de estimado valor. Os marchands tradicionais, principalmente europeus e estadunidenses, se alimentavam dessas obras adquirindo-as através de espólios, após muitos anos presentes nessas coleções. Quando adquiridas, permaneciam nos acervos das galerias por tempo suficiente para retornar às vendas com preços algumas vezes multiplicados. E não se enganem: essa fórmula gerava muito dinheiro para os comerciantes. Era a velha técnica do mercado até alcançar outra.

Hoje, os galeristas são como corretores que vendem obras porque elas estão cotadas nas bolsas de arte, nos leilões. O tradicional colecionador passou a ser um investidor e geralmente compra uma obra porque o artista está em alta cotação, com pouca paixão pela peça adquirida. E a revende se perceber que os índices do artista estão em baixa, para não ter maiores prejuízos. Existem poucos ainda que mantêm aquelas obras por puro prazer de tê-las em suas paredes. Muitos erros desse tipo foram comprovados na história, por exemplo, Van Gogh, que é uma lenda por não ter vendido nenhum quadro, atualmente tem obras com sua assinatura que são adquiridas por mais de US$ 100 milhões.

Diz-se que o mercado de arte brasileiro está de vento em popa, que as exportações são maiores que as importações e que o interno cresce com o desempenho das galerias e das feiras em São Paulo (SP-Arte) e no Rio de Janeiro (ArtRio). Que desponta artista relativamente jovem, estourando nos leilões com preços de mais de R$ 1 milhão, e que chamam a sua obra de prima. Também sabemos que o mercado esteve em baixa por um período. E assim vive o nosso mercado de arte: em oscilações. Por enquanto a confirmação é de que a projeção é pra cima até ao longo de 2014. Já passamos por bolhas em investimentos em leilões e notícias alvissareiras constantes. É esperar para confirmar. Existe muito marketing na história. Mas os fatos podem comprovar a verdade.