"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Petição aos santos


O cidadão encontra-se sob o domínio de um sistema que o oprime a cada dia. A começar pelo Imposto de Renda, que alcança quase 40% dos rendimentos. E aí começa o encadeamento com outros que encarecem o custo de vida. Nos municípios, são vários. Bem, mas estão dentro da lei, e é difícil consertar. Aqueles parlamentares que são eleitos com o fim de nos representar são os mesmos que criam a legislação e protegem governos. Ou se submetem a decretos acionados pelo Executivo. Não me refiro apenas aos impostos, mas também à máquina do sistema, que engloba empresas estatais ou privadas que prestam serviços, como os bancos, companhias de água, de luz, telefonia, saúde, etc. Um dos maiores empecilhos é a comunicação dessas empresas. Quem tem a experiência de ligar fica preso ao telefone ouvindo músicas inconvenientes à espera de uma solução para resolver o necessário. A saúde está abandonada, com os pacientes nos corredores dos hospitais. A Justiça age com passos lentos... Parece-nos uma força além do cidadão comum, por tantas tiranias do sistema. Há muito tempo, os governos prometem um paraíso... Mas estes são liderados por chefes que venderam ilusões e retrocederam. Então, recorrer a quem?

Como neste mês de abril a Igreja Católica irá consolidar a canonização dos três beatos, padre José de Anchieta, João Paulo II e João XXIII, irei apelar com uma petição, dividindo-a em temas para cada um dos novos santos. Iniciando pelo jesuíta José de Anchieta, que esteve bem próximo a nós e encontrou a nossa terra ainda nos primórdios da colonização, com a missão de catequizar os índios, encaminhando-os à doutrina da fé católica. Viveu e sofreu por eles, fundando o Colégio de Piratininga, pedra fundamental da cidade de São Paulo. Pela sua história, entende-se que ele terá possibilidades de atender ao meu pleito. Serei sucinto. Pedirei a interferência nos impostos e na educação, soprando na elite política mais seriedade para esses segmentos de governo, que estão um desastre. A João Paulo II, vitorioso contra as frentes ideológicas, quando papa, que possa reestruturar o Congresso e derrubar a corrupção. E a João XXIII, homem piedoso que trabalhou para as questões sociais, zelar pela saúde do povo, interferindo junto aos dirigentes do País com o fim de tirar a saúde da lama. Clamo também a todos os outros santos para ajudarem o Brasil!

sábado, 5 de abril de 2014

Matéria transfigurada


A matéria de trabalho do artista plástico pernambucano Fernando Ferreira de Araújo é a memória. Ele revive, nessa última fase, a sua trajetória. São experiências em vários setores da vida, transfiguradas. Pictóricas ou não. Como se montasse um impactante jogo. Uma montagem de imagens fragmentadas num entrelaçamento vibrante. Os artistas que perpassaram por suas retinas e seu espírito estão presentes de modo espontâneo, a exemplo de Mark Tobey, Jackson Pollock, Willlem de Kooning, entre outros do expressionismo abstrato, sem os dogmas nem as prisões ao estilo de nenhum deles. A cultura em que mergulhou no seu próprio país e nos Estados Unidos da América — em particular, pelo fato de ter morado numa cidade metropolitana e cosmopolita como Nova York — é um mote natural.


Compreendeu que, acima de tudo, a arte se constitui de trabalho intenso. Só se constrói uma obra com empenho e permanência, parece nos dizer ele através dos gestos pictóricos que adquiriu nesse garimpo da cor e das intrincadas pastas de tintas. Aprumou o seu leme com verve e enfrentou os embates do fazer. Os pincéis foram suas mãos. Tão bem orquestradas que refizeram essas sinfonias da alma. Toques ligeiros e mágicos semelhantes às sonoridades musicais. Como nas cordas das harpas, dos violinos, nos teclados. Pintura é música. É o que se evidencia quando olhamos as pinturas atuais do artista. Ele está mais próximo de si mesmo. Conseguiu codificar uma linguagem plástica que é dele principalmente. É a partir daí que renasce em sua arte e define o seu caminho.

Em princípio, na percepção do espectador, são concepções abstratas que incitam a imaginação a tentar identificar elementos conhecidos da natureza ou coisas elaboradas pelos homens. Às vezes, lembram o espaço com astros e asteroides; outras, mapas ou uma visão de topo das paisagens terrenas, tudo isso são apenas sugestões para leituras em alta velocidade, e é por isso que nós não podemos nos  deter em nenhuma dessas interpretações, só há o aspecto do todo. São igualmente signos que estão no mundo secreto do artista. Uma deliciosa mostra por saber que ali estão as digitais de um artista que realiza uma obra que fala do mundo e dos seres, de forma única e onírica.