"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Arte e totalitarismo





Toda vez que a arte esteve envolvida com os estados totalitários no século XX, houve um impasse, não deixou marcas salutares na História. As duas experiências mais fortes foram na Alemanha nazista e na União Soviética, principalmente porque esses Estados queriam imprimir na arte a ideologia de suas raízes, com as quais os artistas não poderiam dizer os seus pensamentos individuais, e sim expressar as ideias do Estado absoluto.

Antes da implantação do nacional-socialismo na Alemanha, a arte estava impulsionada pela criação de vários movimentos em sintonia com outros europeus, como o expressionismo e o fauvismo franceses. Muitos artistas procuravam Berlim para se alimentar dessas novas fontes; era uma efervescência cultural moderna estabelecida por nomes como Emil Nolde, Kandinsky, Paul Klee, Kirchner, entre outros que se destacaram nesse movimento. No advento do nazismo, Hitler e seus seguidores nutriram ódio ao expressionismo, por considerar uma visão deteriorada do mundo e das coisas, de origem comunista e judia, considerados inimigos do sistema.

Para contrapor a arte moderna, o ministro de propaganda, Joseph Goebbels, com o aval de Hitler, realizou a exposição “Arte Degenerada”, onde reuniu artistas que estavam sintonizados com o expressionismo e os que representavam uma ameaça às novas ideias para uma arte alemã considerada expurgada de todas as deformidades, tal como considerada pelo nacional-socialista.

A partir desse fato, criou-se uma tendência estética que representava a pretensa superioridade ariana, em que as esculturas, pinturas e gravuras evocavam o enaltecimento da ideologia vigente. Verdadeiro disparate ante a História, e o destino dessa nova concepção ariana, naturalmente, foi a nulidade. Também iniciaram as perseguições aos artistas, com prisões, torturas e assassinatos, e a migração forçada pelas circunstâncias da repressão.

O mesmo aconteceu após a revolução bolchevista, que atraiu inicialmente um interesse revolucionário na educação pela arte, envolvendo artistas interessados em participar da primeira etapa da Revolução de 1917. Artistas como Chagall, Malevitch, Lissitzky, Kandinsky e Maiakovski estiveram presentes nessa etapa educativa ainda aceita pelo poder bolchevista. O Estado predominava como patrocinador das artes; os colecionadores ricos que financiaram a vanguarda russa já tinham saído do país. Havia nesse momento conflitos sobre o que representaria a arte para a revolução, período em que foram afastados os artistas criativos e independentes, predominando o realismo soviético.

A partir de 1923, as cabeças que lideravam a arte independente foram excluídas dos programas da instalação da arte voltada para o Estado. A consequência real foram prisões, assassinatos, suicídios..