A exposição Sensation, realizada em 1997 na Royal Academy of Arts, em Londres, reunindo a geração dos Young Bristish Artists – YBAs, foi organizada por um bem-sucedido empresário da publicidade — Charles Saatchi, que se tornou um dos mais importantes marchands e proprietário da Saatchi Gallery, especializada em arte contemporânea e a principal interessada em colocar artistas no topo do mercado e da publicidade nas grandes metrópoles. O mote da Sensation? A mistura de erotismo, violência, vulgaridade e humor grotesco.
Entre as obras, estava um retrato da serial killer Myra Hindley, num painel de 4 x 3,5 m que reproduzia a foto policial divulgada pela imprensa, na década de 1960, à procura da assassina de crianças. O autor, Marcus Harvey, intitulou a obra de Myra, e os pixels da foto, excessivamente ampliada, tinham a forma de mãos de criança, mas ele, talvez para se precaver de reações penais, teve o cuidado de informar que aquelas mãos eram reproduzidas por moldes, e não por seres inocentes.
Outro artista, Marc Quin, realizou a obra Self, uma escultura de sua cabeça, moldada em 4,5 litros do seu próprio sangue, congelada e colocada num cubo refrigerado para transmitir a sensação de vida e morte, como uma máscara mortuária produzida pela força do sangue — vida e morte simultaneamente.
A grande estrela do evento foi Damien Hirst, que esquartejou animais com precisão, apresentando-os em tanques, imersos em formol. Inicialmente foram ovelhas, porcos e vacas. Nas séries posteriores, vieram os tubarões.
A Royal Academy, como instituição tradicional, abriu uma seção reservada para maiores de 18 anos, porque ali estavam os manequins de Jake e Dinos Chapman, apresentados explorando taras sexuais e apelos ao grotesco. Eram inocentes xifópagos amontoados em posições diversas, que apresentavam pênis no lugar das narinas e ânus no da boca.
O público mordeu a isca da suposta provocação, agredindo pessoas e obras presentes na mostra e pedindo o fechamento da exposição; uma verdadeira moeda de recompensa para o organizador, que estava “antecipando” os lucros promovidos pela ignorância daquele público que consolidava o tão almejado escândalo. E assim aconteceu: só um dos tubarões de Damien Hirst foi vendido, posteriormente, por 12 milhões de dólares!
Essa exposição foi uma das mais representativas do pensamento da arte nas últimas décadas, influenciando centros culturais considerados de Primeiro Mundo e da periferia. Nesse sentido, a Bienal de São Paulo não foge à regra: recebeu, após anos, os reflexos da proposta de Sensation, propondo-se também a escandalizar, e o público reage em protestos, premiando os curadores e protagonistas, possibilitando enorme publicidade, com a pretensão de lucros futuros, e alimentando o permanente vazio de conceitos na arte.
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