"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand

terça-feira, 9 de julho de 2013

O Grito

                                                                 

Este é o título de uma obra do pintor norueguês Edvard Munch (1863–1944), realizada em 1893, na qual utilizou uma técnica mista, com óleo sobre tela, têmpera e pastel, uma das mais significativas do expressionismo mundial. Pintura realizada em um período difícil do artista, que refletiu em nosso século como uma expressão máxima de angústia, talvez por isso nos toque tão profundamente por vivermos num tempo em que o cidadão é oprimido por todos os lados: pelo desenvolvimento desordenado, pelo Estado sem uma definição ideal para a sociedade e pelas imensas tragédias que assolam o planeta.

Hoje, esse grito é multiplicado por milhares de pessoas em vários países, inclusive no nosso. Vozes que clamam contra a corrupção; por justiça social; diminuição da criminalidade, que amedronta o cidadão todos os dias; melhoria nas condições de vida, na educação, na saúde, no transporte, na moradia, no salário, na política; a redução de impostos, cujo retorno não vemos... A esperança — apesar de o povo brasileiro ser otimista e paciente — foge-lhe das mãos, numa cena de muita tristeza.

Mas essas vozes têm a sua demonstração de grandeza através das redes sociais. É ali que o cidadão diz tudo. Fala mal dos governantes, mostra-lhe os erros. Também dos parlamentares, apontando as deformações do Congresso, que finge não saber o que o povo quer. Levanta bandeiras de ordem. Organiza-se para se manifestar nas ruas e falar do que precisa. Este é o verdadeiro plebiscito.

A leitura que é feita nessas páginas na Internet dá para interpretar a voz do povo. Só não vê e ouve quem não quer. Está sendo um verdadeiro dragão de poder democrático, talvez o quarto a partir de agora. É a sociedade, com toda sua força, colaborando com os políticos para que eles trabalhem como ela quer. Uma verdadeira democracia forjada pelo povo, e não pelos governantes.

E as ruas é a materialização das vozes cidadãs. Milhares caminham com a vontade de verdadeiras mudanças. Para trás as velhas políticas! É isso que o povo quer: saciar as suas necessidades emergentes. Nada em longo prazo. Mudanças já! Não há como esperar. O tempo se esgotou.

                                                                       

domingo, 23 de junho de 2013

O mal em nós

                                          A Escola de Atenas,Rafael Sanzio -1509

A maldade humana é um fenômeno natural. Na essência somos assim: próximos ao mal. Se não fôssemos, não haveria necessidade de existir, na história, tantos filósofos, profetas e iluminados, com a finalidade de nos lembrar do lado ético, despertando-nos os exercícios de bondade e compaixão, como Sócrates, Platão, Krishna, Confúcio, Moisés, Buda, Jesus, Maomé; além das tradições hindus e os exemplos de indivíduos que marcaram a modernidade com a consolidação de ideias avançadas de direitos humanos, de equilíbrio e preservação do planeta.

 É difícil nos reconhecermos dessa forma: como criaturas capazes de praticar o mal. Pretendemos ser reconhecidos, no verniz social, como pessoas do bem, de respeito, espelho, para os outros, de moral e inteligência. Ficamos indignados quando nos colocam uma lente de aumento e mostram o lado podre de nossas ações. Mas apontamos facilmente o dos outros. Estamos também cegos para o sofrimento dos semelhantes, aqueles que representam o “inferno”. E apreciamos os personagens maus, representados na dramaturgia.
 
Em todas as faces da sociedade existem essas sementes do mal, nas religiões, na política, na ciência, na arte, na comunicação... Movemo-nos nessas forças das várias escalas profissionais e dos relacionamentos humanos com um tom de diplomacia que beira, quase sempre, uma franca hipocrisia. Nesse instante, pensamos logo e só nas relações políticas, quando alguns políticos se cumprimentam com as tapinhas nas costas e o sorriso fácil dos acordos mais esdrúxulos. Mas, se aumentarmos o grau de nossas lentes psíquicas, veremos que em muitas dessas relações humanas há tramas de armadilhas.
 
As criaturas humanas que transcendem essa maldade intitulamos como heróis, e estas são perseguidas, pisadas, maltratadas, porque não estão no mesmo patamar do mal, e, depois que as destruímos, pomo-las nos altares da humanidade. E os maus famosos e mais próximos ao nosso século, por exemplo, os que assassinaram grande parte da humanidade, como Hitler, Mussolini, Stalin, Pol Pot e outros, cobrem uma multidão de maus menores, que são homicidas, ladrões, mesquinhos, maledicentes, egoístas, ambiciosos, preconceituosos, invejosos... Com a devida vênia, excelências e eminências, o mal ainda predomina em nós!


 

domingo, 9 de junho de 2013

O legado de Van Gogh

O pintor Vincent Willem van Gogh (1853–1890) nasceu um ano após e no mesmo dia do natimorto Vincent van Gogh, começando assim sua história dramática. O Willem e o Vincent do nome do artista vêm dos dois avôs. Ele era o mais velho dos irmãos Anna Cornelia, Theodorus, Elizabeth, Wellemina e Cornellis Vincent, educados rigidamente sob a orientação protestante calvinista, pelo fato de o pai, Dorus, ser pastor e ter como base o pensamento de Calvino — “Tudo que não é dever é pecado”. A mãe, Anna, fechava o círculo familiar afirmando: “Somos moldados primeiro pela família e depois pelo mundo”. A família holandesa, à época, como a dos Van Gogh, era regida pela santíssima trindade doméstica: o dever, a decência e a solidez.

Van Gogh era uma personalidade diferenciada. Quando tentava se enquadrar na tradição familiar quanto à religião e aos princípios daquele ambiente, era um desastre. O primeiro passo foi trabalhar na galeria de arte do tio Cent van Gogh, um dos parentes, que, ironicamente, enriqueceu com a venda de obras de arte e se associou a outra grande galeria, a Goupil, de um francês chamado Adolphe Goupil, formando o nome Goupil & Cie, que invadiu o mercado de arte europeu. Mas Van Gogh não se adaptou à disciplina de vendas: foi o seu primeiro fracasso.

Depois tentou ser pastor, mas foi reprovado no teste de avaliação para exercer a função. Mesmo assim, foi mandado para a Bélgica, para as minas de carvão, em Borinage. Lá, quis ser o protetor dos explorados operários; seus superiores religiosos o demitiram porque desonrou o padrão de pastor. Então, revoltou-se contra a religião e chamou os seus dirigentes de “sepulcros caiados”, outra derrota. Entre as várias decepções por que o artista passou, houve o rompimento com a família.

A arte levou-o a libertar-se dos venenos que a serpente família inoculava sobre seu espírito. Na verdade, o artista só teve dez anos para realizar a obra genial que é reconhecida pela história. Só um irmão o acompanhou e o ajudou a realizar a sua obra. Foi Theodorus, o Theo das longas cartas, nas quais Vincent compartilhava suas experiências detalhadas como artista.

Na cidade de Arles, no sul da França, o artista expandiu a sua mente realizando obras de maior representação, foi ali que conviveu com Gauguin e onde teve também um final trágico...  

quarta-feira, 29 de maio de 2013

O povo e a corte

                                                   Ministro do STF - Joaquim Barbosa


O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, confirmou o que nós, o povo, sabemos: que os partidos políticos são de “mentirinha”, que “são ineficientes e dominados pelo Poder Executivo”. Basta ler as pesquisas de opinião sobre as instituições e poderes brasileiros para perceber que o Congresso sempre fica em último plano.

O ex-presidente Lula acordou no momento em que entendeu essa estrutura política e, só na sua quarta candidatura, quando se uniu a políticos de todas as cores e ideologias, venceu as eleições e dominou o Congresso, principalmente com o seu ministro estrategista José Dirceu.

   

Sonhamos, em todos os anos de eleições, com um Presidente da República e representantes do Congresso que deem sentido novo ao nosso país; que realizem as reformas de que necessitamos nas áreas política, tributária, penal e judiciária; na educação; na saúde; no transporte... Mas logo após consolidados os eleitos, com o passar dos anos, vêm as desilusões, os mesmos fatos, as mesmas corrupções, e a preocupação maior de cobrar impostos, enriquecer mais o governo, que já está imensamente rico e pela atitude, se beneficia do povo, que vota e elege.
   
Na verdade o Brasil cresce pela força empreendedora desse povo paciente, que contribui a cada dia com o suor do trabalho, porque, se dependesse de muitos dos nossos representantes políticos, a Nação estaria paralisada. A inteligência dos brasileiros, em todos os âmbitos, destaca-se em grande parte do mundo, mas são indivíduos independentes que nos representam com os seus valores, nada a ver com governos e políticos.
   
E com essa força demos passos importantes, mas podemos “fazer mais”, como dizem todos os candidatos, só que estamos andando a passos de tartaruga. Já poderíamos ter dado saltos imensos e estarmos no patamar de Primeiro Mundo. Mas há dois Brasis: o real e o encantado.
   
Para quem duvida, sugiro que visite ou necessite de tratamentos em hospitais públicos ou de uma simples consulta médica; reivindique à Justiça indenizações ou direitos como vítima de processos penais; observe os impostos cobrados nos produtos dos supermercados. Vejam a via férrea Norte-Sul, que foi paralisada e deu prejuízos constatados pelo TCU; a transposição do Rio São Francisco, com superfaturamentos; ou, como são tantos lados para mostrar, façam um passeio, simplesmente, no centro do Recife e verifiquem a decadência...




quarta-feira, 1 de maio de 2013

Calçadas perigosas


É o que posso dizer em relação às nossas calçadas na cidade do Recife. Infelizmente, este é um drama que vivemos há longos anos. E esta é a preocupação do atual prefeito, Geraldo Julio, com 100 dias de governo: resolver o grave problema criando leis que possam restaurá-las. O desleixo foi das administrações anteriores, principalmente dos últimos doze anos. É lamentável.

No dia 20 de fevereiro, à tarde, caminhando no bairro da Encruzilhada, após compras no mercado público, com as mãos ocupadas carregando sacolas, quando ia atravessando um sinal para alcançar outra calçada, levei uma topada e caí com o ombro direito. A dor foi expressiva porque não tive tempo de me proteger, largando as sacolas para utilizar as mãos como meio de defesa: espatifei-me no chão quente e logo fui cercado por pessoas sensibilizadas com aquele “senhor” caído pelas vias das más traçadas calçadas. Alguém perguntou: “O senhor pode se levantar?”. “Meu Deus”, pensei, “finalmente as calçadas me derrotaram!” “Não”, respondi e devolvi: “O senhor pode me ajudar a levantar?”. Assim foi feito. E continuei a caminhada solitária com a dor atroz, segurando as sacolas em um só braço. Bem, aí continuou a via-crúcis.

Só no dia 22 fui a um grande hospital, no setor de emergência. O médico identificou, através de radiografia, três fraturas e me encaminhou para realizar uma cirurgia de emergência. Passei dez horas em jejum, fui hospitalizado, realizei todos os exames pré-operatórios. Já no quarto hospitalar, com a bata ridícula, touca e pantufa própria para cirurgia, recebi a visita do anestesista; perguntou-me se estava em jejum, há quantas horas, etc. e entrou na conversa que o interessava: “Senhor Plínio, tenho um assunto que considero constrangedor”. Fiquei curioso com o “constrangimento”. E aí ele foi direto. “Terei que cobrar ao senhor R$ 1.500,00 por fora, porque o seu plano não cobre o meu trabalho.” Então, disse-lhe: “Meu caro, quem está constrangido sou eu por ser oneroso o plano e ter que lhe pagar ainda esse valor; sendo assim, não farei a cirurgia”. E o anestesista terminou dizendo que aguardasse os instrumentistas, porque eles viriam também cobrar o “cachê” deles. Tudo confirmado pelo chefe da equipe cirúrgica. Fiquei com a cara no chão — mais uma queda!  

Neguei o pagamento, saí daquele hospital e fui cirurgiado em outro, com outra equipe, diria de competentes e bons médicos, não corporativistas nem mercenários. O plano negou as más informações dos primeiros médicos, e o grande hospital admitiu o erro.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Visão do capeta


Goya - Sabbath

Fui acordado, com uma forte luminosidade, às 2:30; era uma bola de fogo que, aos poucos, foi diminuindo a sua intensidade e tomando uma forma humana. Fiquei tão surpreendido, estatelado, como tomado por uma força poderosa, e aquele ser começou a falar com uma polidez de quem tem alta cultura: “Sou Lúcifer, o Anjo Decaído, ou o Dragão do Apocalipse, ou a Besta, ou o Diabo, que, na acepção da palavra, é aquele que divide; você escolherá depois como me chamar. Muitos religiosos, na mitologia do demônio, constroem a imagem como terrível, monstruosa, mas, como vês, sou belo”. Então, comecei a perceber a sua maneira de articular as palavras, de gesticular, de se vestir, de pentear o cabelo, o seu perfume; para mim era uma espécie de executivo financeiro da Wall Street, desses que o mundo respeita e considera como a melhor estirpe de gente. E continuou: “Sou doutor em todas as ciências e filosofias, principalmente me atrai a economia, o direito, a genética, a medicina, a matemática, a física, a história, a teologia, a psicologia, a política, nenhum conhecimento me escapa, gosto até da gastronomia e, nesse ramo, tenho também profundo conhecimento. E é com esse saber que penetro na vida entre os homens, na verdade eles me distraem muito, porque se acham sábios e não entendem que a minha sabedoria supera qualquer gênio da humanidade, só estou abaixo daquele que não pronuncio o nome, por razões óbvias. Por exemplo, o Brasil é um dos países que mais me atraem, abaixo, claro, dos EUA, com suas infindáveis guerras interesseiras e desumanas. A começar pelo Congresso Nacional, onde encontro os piores tipos humanos de ignorância, eles são tão bons nas besteiras que fazem que, às vezes, não preciso nem inspirá-los, muitos parlamentares já realizam o meu pensamento: defraudam, votam em interesses próprios, só pensam em presidir a Câmara e o Senado e nas reeleições deles e para a presidência da República. Morro de rir, meus auxiliares ficam indignados de tanta risada. E as más seitas do País que falam no Evangelho do Nazareno. Com essas palavras eles enriquecem a si próprios e aos planos de expansão dos seus templos; ah, que prazer me dão esses cegos guias de cegos deturparem as palavras do homem mais santo que esteve entre vocês. Fazem milagres televisados com atores improvisados e, aí, gritam cinicamente: ‘Ele salva! Ele salva! Eis o milagre!’. E, depois, dão o número da conta para depósito. Que maravilha! Que progresso no mal! Também estou no Escândalo Vatileaks e me envolvi no encontro entre os dois papas, homens sérios, é verdade, mas, quando começaram a ler aquelas páginas, grande risada eu dei. Para sua informação, do meu conhecimento sobre arte, você não tem dimensão. Até mais...”.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

O violino de Matisse


O pintor francês Henri Matisse (1869–1954) concretizou a sua vocação para as artes plásticas tardiamente, após passar um ano estudando direito em Paris e tentar ser um violinista durante a infância e adolescência, por influência do pai, que acreditava que o artista poderia ser um virtuoso no instrumento que o acompanhou durante toda a vida, principalmente nos momentos mais difíceis, quando o artista mergulhava nas emissões agudas das sonoridades características daquelas cordas musicais, para liberação das tensões nervosas que o acometeram em vários períodos e fases da carreira de um dos principais inventores do pensamento, da arte e da cultura moderna ocidental.

A sua influência na Europa pós-impressionista foi considerada fundamental e exerceu uma das lideranças que esteve como ponta de lança nos movimentos mais importantes, a exemplo do Fauvismo, consolidado em 1905, e inspirado nas cores fortes de Van Gogh e no primitivismo de Gauguin, tendo como origem do nome o termo les fauves, dado por um dos críticos conservadores, à época, Louis Vauxcelles. Portanto, chamaram seus seguidores de “as feras”, grupo em que estavam artistas como Derain, Vlaminck, Dufy, Braque... Segundo Matisse, todos procuravam a pureza das cores e o seu equilíbrio, com a força de pinceladas veementes.

Na sua permanência em Paris, Picasso encontrou Matisse — um mestre atuante na cultura parisiense que era ouvido seriamente e apontava caminhos como fonte de muitas revoluções estéticas e um competidor à altura da genialidade picassiana. Matisse teorizava suas elucubrações plásticas com força e rigor, exercendo o poder das ideias sobre os demais artistas, fato que intimidou Picasso, no início, ao conhecê-lo, e fez o poeta Apollinaire chamá-lo de fauve dos fauves.

A trajetória do artista, sempre acompanhada pela presença do violino, foi marcada por lutas e reflexões que o levaram a conquistas não somente no âmbito estético, mas também na popularização da arte que realizou, ampliando as vendas das suas obras, que se propagaram em toda a Europa e América, através de importantes colecionadores que o acompanharam durante todas as suas fases. Alcançar o mérito de tornar-se Cavaleiro da Legião de Honra, eleito pela revista L’Art Vivant como um dos artistas mais populares da França, e incluído no hall da fama da Vogue inglesa gerou a velha inveja humana entre os cubistas e surrealistas, que o consideravam um artista decorativo.