“Matar o sonho é matarmo-nos.”
Fernando Pessoa
Parece que, em tempos de pandemia e crises consequentes ou guerras mundiais etc., somos levados talvez a sonhar com coisas fantásticas ante a nossa realidade, como numa saída em visões que possam dizer algo. Os livros sagrados estão cheios de sonhadores proféticos e intérpretes de sonhos sobre acontecimentos futuros ou contemporâneos que serviram a reis, príncipes e seguidores desses profetas.
Muitos artistas sonharam e realizaram obras com o que lembravam das imagens. O renascentista nórdico, pintor, ilustrador, gravador, matemático e teórico de arte alemão Albrecht Dürer sonhou com uma grande quantidade de água que caía do paraíso e que proporcionou um dilúvio, realizando a obra “Visão do sonho”, representada como uma cordilheira de montanhas a ficar submersa durante o fenômeno.
O surrealista espanhol Salvador Dalí apreciava os sonhos como fontes para o seu trabalho, tanto assim que homenageou o momento do sonho na pintura “O sonho aproxima-se”. O pintor e gravador, também espanhol, Francisco de Goya era tão atormentado pelos sonhos que intitulou uma de suas obras como “O sonho da razão produz monstros”. Um dos mais brilhantes pintores e poetas dessa linguagem, o inglês William Blake, concebia os sonhos como seu estado místico natural, porque passou a vida toda concebendo visões dos mortos aos vivos, o que inspirou o desenho “Cabeças visionárias”. E um dos representantes da arte pop norte-americana, Jasper John, sonhou que tinha pintado uma bandeira dos Estados Unidos. E logo ficou impulsionado para realizá-la, o que fez na manhã seguinte, quando despertou. Há exemplos infindáveis de que muitos artistas exploraram essa matéria do sonho como mote para suas obras.
Pois também tive a minha parcela de sonhos na noite da lua de sangue, como é chamada, presenciando visões fantásticas. Era como se desabasse uma grande construção incrustada com obras de arte e que, em um momento, caiu sobre todos nós como várias Capelas Sistinas, esculturas pesadas e criações diversas que rolavam sobre formas arquitetônicas. Parecia que toda a arte construída, as conquistas estéticas e os valores éticos estavam desmoronando em meio ao pânico das pessoas, às correrias para todos os lados, às pedras caindo sobre elas e à ansiedade de não sabermos como conter aquele desastre. Um sonho angustiante de desarmonia interior, como se nos restasse apenas o recomeço, um renascimento, porque tudo estava destruído. Não sei o que fazer com essas lembranças, mas é certo que elas têm algo a dizer...
Nenhum comentário:
Postar um comentário