A maldade humana é um fenômeno natural. Na essência somos assim: próximos ao mal. Se não fôssemos, não haveria necessidade de existir, na história, tantos filósofos, profetas e iluminados, com a finalidade de nos lembrar do lado ético, despertando-nos os exercícios de bondade e compaixão, como Sócrates, Platão, Krishna, Confúcio, Moisés, Buda, Jesus, Maomé; além das tradições hindus e os exemplos de indivíduos que marcaram a modernidade com a consolidação de ideias avançadas de direitos humanos, de equilíbrio e preservação do planeta.
É difícil nos reconhecermos dessa forma: como criaturas capazes de praticar o mal. Pretendemos ser reconhecidos, no verniz social, como pessoas do bem, de respeito, espelho, para os outros, de moral e inteligência. Ficamos indignados quando nos colocam uma lente de aumento e mostram o lado podre de nossas ações. Mas apontamos facilmente o dos outros. Estamos também cegos para o sofrimento dos semelhantes, aqueles que representam o “inferno”. E apreciamos os personagens maus, representados na dramaturgia.
Em todas as faces da sociedade existem essas sementes do mal, nas religiões, na política, na ciência, na arte, na comunicação... Movemo-nos nessas forças das várias escalas profissionais e dos relacionamentos humanos com um tom de diplomacia que beira, quase sempre, uma franca hipocrisia. Nesse instante, pensamos logo e só nas relações políticas, quando alguns políticos se cumprimentam com as tapinhas nas costas e o sorriso fácil dos acordos mais esdrúxulos. Mas, se aumentarmos o grau de nossas lentes psíquicas, veremos que em muitas dessas relações humanas há tramas de armadilhas.
As criaturas humanas que transcendem essa maldade intitulamos como heróis, e estas são perseguidas, pisadas, maltratadas, porque não estão no mesmo patamar do mal, e, depois que as destruímos, pomo-las nos altares da humanidade. E os maus famosos e mais próximos ao nosso século, por exemplo, os que assassinaram grande parte da humanidade, como Hitler, Mussolini, Stalin, Pol Pot e outros, cobrem uma multidão de maus menores, que são homicidas, ladrões, mesquinhos, maledicentes, egoístas, ambiciosos, preconceituosos, invejosos... Com a devida vênia, excelências e eminências, o mal ainda predomina em nós!