"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand
Francisco Brennand
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
A vez dos idosos
Rembrandt
Conta-se nas Escrituras Sagradas budistas que o príncipe Siddhartha Gautama (por volta de 566 a.C.), aquele que se tornou o Buda, o iluminado, na sua doutrina da universalização do sofrimento, encontra na velhice — como no nascimento, na doença e na consequente morte — um dos fundamentos da dor humana. É na contemporaneidade, nos países ocidentais, principalmente nos em desenvolvimento, que nós constatamos o fato com mais força no dia a dia dos idosos. No Nepal, onde surgiu o Budismo — que se espalhou depois pela Ásia — não há a necessidade de um estatuto que os proteja, porque, lá, a tradição milenar impele a respeitá-los.
Pressupõe-se que todo idoso seja sábio, mas nem todos alcançam essa possibilidade, mesmo porque a maioria não teve a oportunidade de uma vida mais tranquila para armazenar um conhecimento formal ou natural transmitido via intuição. Só aqueles que passaram toda uma vida refletindo, como um fruto que passa do broto ao amadurecimento completo, adquirem a sabedoria. Nem todos tiveram a oportunidade de um Claude Monet, que teve, no que se sabe, uma vida relativamente feliz e reflexiva na sua propriedade em Giverny, onde pintou incansavelmente a série de obras intitulada Nenúfares, nos seus últimos dias, no belíssimo lago que construiu e na famosa ponte japonesa. Foi ali que Monet fortaleceu e concluiu as ideias mais avançadas do impressionismo.
Também nem tiveram uma velhice como a de um Gilberto Freyre, que passou toda vida estudando e realizando obras-primas sobre a Nação brasileira e, antes da morte, deixou vários artigos para serem publicados na imprensa pernambucana, demonstrando uma vida social e intelectualmente ativa; sem falar do seu esforço para a consolidação da Fundação Joaquim Nabuco — órgão importantíssimo, que é referência para a cultura nacional.
Os idosos, já limitados pelas condições físicas, ainda são desrespeitados em nosso país, quando circulam pelos centros urbanos — nas filas de pagamento ou de recebimento de pensões, nos transportes coletivos, nos consultórios, no trato social — e pelos próprios parentes diretos, que os aprisionam para assinarem procurações ilegítimas e lhes toldam as próprias vontades, aproveitando-se da fraqueza natural da idade e fazendo de sua vida gato e sapato, numa santa hipocrisia: os nossos idosos familiares quase sempre são apenas peças de decoração para mostrar à sociedade que estão servindo às suas necessidades numa mentira sentimental mascarada de bondade religiosa.
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