"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O código das formas



Eudes Mota tem um olhar atento e o cérebro em atividade contínua. Alimenta, assim, o seu trabalho com as informações que foi recebendo em sua trajetória. Percebe o mundo através da matéria que trata. É um artista-artesão. À semelhança dos renascentistas, que tinham a habilidade de conceber obras de arte na concepção e no domínio das técnicas: um criador.

Conheci a maneira como o artista maneja os seus instrumentos, que beira a um ritual de um pesquisador em sua lida diária. Um trabalhador que persegue a ideia com força e só descansa quando conclui a obra. Meticuloso, olha bem perto o objeto de criação como se quisesse entrar nos mínimos detalhes, entranhar-se nos meandros do trabalho, da superfície à profunda e última parte. Para o artista, a preparação dos utensílios é tão importante quanto a obra. Com as telas, as madeiras, os papéis, as tintas, os pincéis ou outros materiais, tem intimidade e arte ao manuseá-los.

O artista, quando jovem, conheceu um dos pintores brasileiros de maior dimensão: Vicente do Rego Monteiro. Após passar — por incentivo dos pais — pela Escolinha de Arte do Recife, que lhe deu os primeiros impulsos na arte, o contato com Vicente foi promissor. Essa oportunidade abriu, para ele, os movimentos e artistas da modernidade do século XX. Como Rego Monteiro era um artista múltiplo — dentro da arte penetrou em várias linguagens —, atingiu Eudes dando-lhe uma nova visão. Creio que o interesse inicial pela concepção geométrica partiu desse contato. Os volumes, os sombreados e as luminosidades, que lembram o Cubismo e que estavam na pintura de Monteiro, influenciaram o artista. Nessa fase, permaneceu figurativo, mas com marcas de elaborações geométricas, nas composições e nos detalhes. Em segundo tempo, o mestre Montez Magno, naturalmente, fez-lhe notar a arte abstrata geométrica com mais amplitude. A semente estava plantada para o que viria brotar como uma árvore com frutos do seu pensamento e de sua arte. 

Eudes mergulhou na arte contemporânea e encontrou o seu real universo, com todos os instrumentos de um artista preparado no ofício e na concepção, e se tornou um dos poucos artistas de destaque desse veio da arte atual, porque de suas mãos nasce, é materializado e permanece consistente o objeto da arte. O foco das intenções que o move é concretizar o pensamento. Nutre-se com os pilares da criação do seu tempo e segue consolidando o legado da sua obra...    

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