"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Arte e democracia




É fato o fracasso da arte e dos artistas nos países totalitários, como na Alemanha — onde imperava o Partido do Nacional Socialismo dos Trabalhadores Alemães, ou simplesmente Nacional-socialismo alemão, ou nazismo — e na União Soviética — quando o Partido Comunista reinou por 69 anos. Sistemas políticos que obrigavam os artistas a pensarem a sua arte em sintonia com esses Estados totalitários, com o único objetivo de fazer propaganda para defender o poder absoluto e suas ideias esdrúxulas; caso contrário, os artistas seriam massacrados, perseguidos ou eliminados de várias formas, como realmente o foram. Estes, então, migraram para os países democráticos da Europa e para os Estados Unidos da América.

Os maiores movimentos da arte que influenciaram o mundo se estabeleceram nas democracias que permitiram o seu desenvolvimento sem importunar os artistas. O Impressionismo, nascido na França, tendo passado pela primeira fase de consolidação, espalhou-se para outras culturas, influenciando, com a nova estética, até mesmo no Brasil, como é o caso do pintor Eliseu Visconti. Os principais participantes do Impressionismo conseguiram firmar sua personalidade e expandir outras abordagens da arte. Exemplos advindos das obras de Van Gogh, Gauguin e Cézanne se desenvolveram em outras visões e interpretações plásticas. A começar pelo Fauvismo e pelo Expressionismo, o primeiro na França e o segundo na Alemanha (antes do nazismo), estes trocaram informações convergentes nas obras. Uma fase de extremo entusiasmo que envolveu artistas como André Derain, Roualt, Henri Matisse, Emil Nolde, Kandinsky, Kirchner, Oskar Kokoschka, Franz Marc, Paul Klee, Max Beckman...

O Cubismo foi inicialmente percebido por Picasso nas obras de Cézanne, com as formas geométricas em suas composições. O artista espanhol vai além e amplia a construção pictórica na obra “As Senhoritas de Avignon” (“Les Demoiselles d’Avignon”), sendo o passo mais radical na história da arte para a entrada no Cubismo. Após ver essa obra, Georges Braque, seu companheiro, que era como seu irmão siamês, trabalhou junto com Picasso quase as mesmas formas, a ponto de não se identificar a autoria de um ou de outro. O marchand Daniel-Henry Kahnweiler, que escreveu o livro “Minhas Galerias e Meus Pintores”, diz que vendeu mais de mil obras cubistas. E muitos outros artistas aderiram, de alguma forma, ao novo movimento, com variações próprias, como Juan Gris e Fernand Léger.

O Surrealismo, o Dadaísmo, a Scuola Metafisica, o Neoplasticismo e o Construtivismo, além da Arte Contemporânea — com todas as suas expressões e concepções atuais —, desenvolveram-se na democracia. O totalitarismo jamais permitiria essa riqueza construída desde então até os nossos dias.