"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Picasso e Einstein




Dois jovens, no início do século 20, proporcionaram uma nova visão sobre o mundo: um no âmbito da arte, Picasso, e o outro no da ciência, Einstein. Os dois, com o mesmo espírito de rebeldia, conquistaram, com suas teorias, a libertação da mente e do olhar quanto ao espaço e ao tempo. Dominaram e reafirmaram as suas pesquisas, mas não foram compreendidos no primeiro momento pelos seus pares e mestres. Não conseguiram agradar, principalmente, os meios acadêmicos, pois estavam mais concentrados na concepção de suas ideias.

Ainda jovem, Picasso abandonou a formação acadêmica, que poderia tê-lo tornado um dos notáveis nos tradicionais conhecimentos. Renunciou a esse caminho e criou sua própria trajetória indo a Paris para continuar a empreitada livre como artista. Lá conheceu obras de outros que lhe forneceram alimento para a criação. Além de Cézanne, a influenciá-lo por meio de sua obra, com a visão de espaço e cor, foi Matisse quem lhe mostrou a arte africana, que proporcionou um verdadeiro salto quântico em sua pintura e lhe fez dar os primeiros passos para o Cubismo, uma das maiores revoluções no campo da estética plástica. Foi contaminado pela concepção de variados criadores, mas entusiasmou também uma quantidade imensa de artistas, que o seguiu, direta ou indiretamente, nas formas que criou, inicialmente consideradas estranhas.

O seu futuro companheiro de ateliê, Georges Braque, disse certa vez que estava impactado com a obra “As meninas de Avignon” (“Les demoiselles d’Avignon”), obra crucial para a consolidação do Cubismo e do próprio artista: “Era como se estivesse na presença de uma pessoa que tinha bebido petróleo para escarrar fogo”; e o pintor André Derain afirmou que um dia iria encontrar Picasso enforcado atrás de uma de suas telas cubistas, talvez lembrando o conto “A obra-prima ignorada”, de Honoré de Balzac, na qual o mestre Frenhofer apresenta sua obra como se fosse uma concepção única no universo pictórico a dois jovens artistas que ficam sem compreender a intenção do mestre.

Apesar do choque inicial, os artistas, aos poucos, aderiram à nova concepção picassiana. O Cubismo desenvolveu o olhar do espectador sobre as coisas, como se a percepção ampliasse e se pudesse enxergar todos os aspectos da matéria, todos os lados, quebrando, assim, a perspectiva linear tradicional; ao mesmo tempo, o pintor apresentava o objeto de sua criação frontalmente, dos lados, por trás, do topo, de ângulos diversos, e o que estava em volta se confundia com o tema pintado... Isso aconteceu em 1907. Picasso tinha 25 anos.

No mesmo ano, uma série de cinco artigos sobre a Teoria da Relatividade Especial, publicada em 1905, por Einstein — com 26 anos —, nos “Anais de Física”, começou a repercutir no meio científico. Um dos eminentes físicos alemães, Max Planck, de Berlim, enviou um assistente, Max von Laue, para Berna, com o fim de conhecer o autor e sua teoria. O assistente presumia que iria encontrar o Professor Doutor na universidade de Berna, mas nas suas investigações descobriu que o Sr. Einstein trabalhava no prédio dos Correios, onde se situava o Departamento de Patentes, que foi o único emprego, à época, que conseguiu para sua sobrevivência. Max von Laue, então, o procurou nesse departamento e pediu que fosse chamado, aguardando-o na sala de espera. Num primeiro momento, o jovem Einstein não foi reconhecido pelo assistente, que só percebeu que se tratava do autor dos artigos quando ele se apresentou.

Max von Laue foi o primeiro cientista importante a se aproximar de Einstein: como é sabido, sua teoria reelaborava o significado de observar eventos no tempo e no espaço, fato que mudou a compreensão da humanidade ante o Universo.

Dois criadores que se encontram naturalmente e modificam a concepção do mundo. É como se o Cubismo e a Teoria da Relatividade se fortalecessem para dizer que as coisas não são mais como imaginávamos...