"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand

sábado, 24 de outubro de 2015

Giotto

                                                                  Giotto

Giorgio Vasari (1511–1574), escritor e pintor florentino, considerado um dos primeiros historiadores da arte, em sua obra “Vidas dos Artistas” — onde reuniu biografia dos arquitetos, pintores e escultores italianos de antes e durante o Renascimento — narra que Giotto di Bondone (1266–1337) nasceu na zona rural de Florença, na cidade de Colle Vespignano. O pai, Bondone, agricultor, educou-o com a liberdade que impulsiona as paisagens do campo. Sendo uma criança vivaz, atraía as pessoas do lugarejo por seu encanto e inteligência. Aos 10 anos, o pai confia-lhe as ovelhas da propriedade e, enquanto estava a pastorear, desenhava as coisas da natureza ou algo de sua fantasia no chão, na areia ou no piso. Foi nessa fase que o pintor florentino Cimabue, celebérrimo em Florença, de passagem pelo lugarejo, presencia Giotto desenhando as ovelhas, com um seixo pontiagudo, em uma pedra polida. O pintor convida, então, o garoto para que fosse morar em seu ateliê, com a anuência do pai.

Para o artista-artesão dessa época, o mercado consistia no interesse dos mecenas, dos duques tiranos ou dos príncipes da Igreja, que era o mais amplo. Nos templos romanos, eram solicitadas imagens em pinturas, esculturas, ornamentos... E quase toda a obra de Giotto foi realizada dentro das igrejas. Até ele existir, imperava o estilo bizantino, que tinha como princípio a rígida hierarquia em que os valores eram representados para dar importância à propaganda cristã, à sua mensagem. E as cores eram elaboradas de maneira mais forte também como objetivo simbólico. Giotto abriu as representações humanas dando-lhe suavidade, perspectiva, drama, ação, movimento, proporção. Foi um dos precursores do Renascimento. Dante Alighieri, retratado pelo pintor, expressou a admiração pelo artista, citando-o na “Divina Comédia”; e Boccaccio deixou o seu registro: “[...] Giotto merecidamente pode ser considerado uma das luzes da glória florentina”. Angelo Poliziano diz no epitáfio: “Sou aquele graças a quem a pintura morta ressuscitou...”.
 
Conta-se ainda que o papa Bento XII, ao ouvir sobre a fama de Giotto e pretendendo contratar o artista para ornar São Pedro de Roma com muitas pinturas, envia um emissário à Toscana para saber mais sobre o homem e sua obra. O representante fala ao pintor que precisava levar alguns desenhos para o papa com o fim de conhecer sua obra. Giotto pega um papel, um pincel molhado com tinta vermelha e, num movimento único, desenha uma circunferência exata. E diz: “Leve-o à Sua Santidade, com outros desenhos”. Bento XII aprovou imediatamente.