"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand

terça-feira, 26 de maio de 2015

O pintor das máscaras




  

                                                           James Ensor

O simbolismo das máscaras é marcante e exerce uma atração nas multidões e nos indivíduos. São como um véu das verdadeiras faces. Usamo-las em várias circunstâncias da vida: na profissão, na política, na sociedade, na religião...  A todo o momento estamos prontos para pô-las como proteção e arte da sobrevivência. Com elas representamos uma felicidade imaginária e pública, com o espírito falsamente favorável aos semelhantes. Muitos praticaram crimes gigantescos contra a humanidade numa inocência mascarada. Todavia, nunca permitimos que nos avaliem como maus e hipócritas.Talvez os homens das cavernas fossem mais verdadeiros e coerentes.

Foi esse o mote que impulsionou o pensamento do pintor e gravador belga, James Ensor (1860-1949), na fase madura como criador, iniciada na pintura As máscaras escandalizadas (1883). No seu percurso inicial foi influenciado pelo Impressionismo francês, quanto às belas captações da luz genuína. Mas, depois partiu para representar os homens pelas máscaras de todas as formas como animais, palhaços, espectros, de uma maneira crítica e violenta, que lhe trouxe alguns prejuízos por ser tão veemente, mostrando rostos e corpos que espelham os apavorantes truques humanos do interior de suas almas e do caráter: um mundo transfigurado e perverso. Ensor expressava uma explosão de contendas contra a falsidade burguesa do seu tempo. Igualmente se autorretratava como Eu triste, Eu morto, Meu retrato esqueletizado, James Ensor crucificado pelos críticos. Cada vez mais se distanciava de uma estética solene e formal, criava obras que eram verdadeiros ataques à sociedade do final do século XIX, fato que o levou a ser expulso do grupo, nascido em Bruxelas, chamado Os XX. Uma das pinturas consideradas obras-primas do pintor tem o título O ingresso do Cristo em Bruxelas, que faz representar a entrada do Messias não na Jerusalém bíblica, mas na Bruxelas dos homens que o pintor julgava como os novos hipócritas e fariseus. Outra obra que dramatiza o horror e o fantasmagórico é a pintura Esqueletos que disputam um enforcado. Concebeu uma obra de plena liberdade de pensamento e foi considerado um partícipe decisivo do expressionismo e o surrealismo, consagrando-se como um dos pilares da arte moderna.