"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Carnaval e catarata

     
                                                                    BAJADO
                                                       


Fui surpreendido, numa consulta oftalmológica com o especialista Dr. Roberto Galvão Filho, pela necessidade de uma cirurgia para tratar a catarata, como é sabido, através de um implante intraocular de lentes, com o fim de corrigir a patologia — isso um pouco antes das festas de Dionísio (o deus grego, também reconhecido pelos romanos como Baco) presididas pelo Rei Momo: o nosso Carnaval, em que tudo é possível, mas sob a vigilância disciplinar de Apolo, o representante do Estado. Preferi realizar a cirurgia como meio de evocar a deusa grega da saúde Hígia, ou Salus, a romana. Contei com a ciência mitológica dessa divindade para que tudo desse certo.

Quando os médicos nos apontam uma cirurgia, vamos dizer compulsória, nos assustam. Mas a confiança é suprema nos homens da medicina que elegemos para nos salvar nas enfermidades. Sempre fui simpático a médicos e juízes. Explico melhor. Os médicos têm a paixão de curar seus pacientes, e os juízes, de fazer justiça — estes não utilizam retórica, dialéticas infindáveis, julgam com a possível sabedoria. E as aproximações que tive com esses profissionais foram bem-sucedidas, a começar pelo meu pai, que era magistrado e professor; atendia a todos que o procuravam, e vi, muitas vezes, receber pessoas humildes, correspondendo, de maneira discreta, elegante, às suas necessidades jurídicas como cidadãos. Tanto assim que, há anos, o homenagearam com o nome do fórum da cidade do Cabo de Santo Agostinho — Humberto da Costa Soares —, uma lembrança honrada e feliz.

Falo da Justiça também porque precisei da sua ação de bom-senso. O meu plano de saúde, em que há 24 anos sou assegurado, inicialmente negou o pagamento das lentes intraoculares, simplesmente porque dizia que o contrato não as cobria. Confesso que essa notícia me perturbou mais do que a de ter que fazer a cirurgia. Como não tenho dinheiro para pagar advogados, recorri às minhas próprias forças e fui à busca de uma solução. Procurei o Juizado Especial Cível e lá, realmente, encontrei pessoas fraternas que auxiliaram para que o documento de pedido de liminar alcançasse as mãos e a mente do juiz de quem não soube o nome — e consegui que o plano pagasse toda a cirurgia. Deixo este testemunho para que outras pessoas possam fazer o mesmo: essa via no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) está excelente para aqueles que pleiteiam justiça.          

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