"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand

terça-feira, 24 de março de 2015

Mercado de compadrio

                                                        Vicente do Rego Monteiro - 1924

As leis tradicionais que regem o comércio de arte não existem de maneira consolidada no Brasil. Com raras exceções de artistas importantes, reconhecidos pelos mercadores e críticos, principalmente os históricos, mortos: para estes, sim, existem a oferta e a procura de refinados colecionadores e marchands. Então, aqui, é preciso estar na história, naturalmente, e morto!, para constar no elevado mundo da arte. O resto é o negócio de compadrio, isto é, ser amigo de banqueiros que possam bancar preços altos em leilões e criar bolhas de valores de obras sem permanência, de políticos que facilitem os meios oficiais, de novos ricos, como mecenas contemporâneos — ou, no caso menor, em regiões como o Norte e o Nordeste, o interesse vem dos profissionais da classe média ou de médios e bem-sucedidos empresários —, para se firmar no trato da arte.

Na Europa e nos EUA, com as devidas reservas das deformações atuais de publicidade exageradas, o mercado venceu com as leis reais. Artistas que estiveram no nimbo do esquecimento estouraram na procura como preciosidades de ouro e diamantes. No século XIX e início do XX, várias personalidades artísticas não existiam para a época, mas, com o tempo, foram sendo reconhecidas. Hoje, são as maiores fortunas apresentadas nas leiloeiras Sotheby’s e Christie’s, termômetro em que se apresentam as obras mais caras do mundo.

Internacionalmente, quanto mais crise econômica, mais a arte desponta como uma das soluções de investimento para aqueles que têm dinheiro de sobra. Os homens do petróleo no Oriente Médio estão investindo bilhões de dólares em seus museus, talvez a futura meca da cultura. Recentemente, um investidor do Qatar pagou US$ 300 milhões por uma obra de Paul Gauguin, artista que morreu em plena miséria e nunca conheceu esse valor. No Brasil, já estão anunciando que um dos maiores leilões anuais está ameaçado pela crise nacional, prova de que o mercado não está consolidado; se o fosse, os milionários ou bilionários do País estariam investindo e multiplicando o seu capital. Pelo que demonstram, evadem-se do tal evento para não arriscarem as suas riquezas.

O mercado de arte, nos países desenvolvidos, sempre dará as cartas ao mundo, aos especialistas, aos colecionadores e ao público para, de alguma forma, a História registrar algo de real que sucessivamente fica nessa trama presente no percurso da humanidade.

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