"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand

sábado, 3 de janeiro de 2015

Tempo veloz



A velocidade neste terceiro milênio é de uma intensidade tal que se diferencia de todas as eras anteriores e parece contradizer a natureza e as galáxias. Tudo é elaborado às pressas. Nos governos, nas instituições, nas empresas, nas famílias, nos relacionamentos amorosos, nas artes, na informática, na sociedade, enfim. As igrejas cristãs consideradas mercenárias estão com soluções bem práticas para captar mais rápido os recursos dos adeptos. Enquanto o universo se movimenta com um ritmo, que imaginamos harmonioso, cabendo a cada corpo celeste a ação determinada, nós, em nosso planeta, estamos num burburinho perturbador em constante desencontro com o reino da natureza e demonstramos que somos o animal predador por excelência ao inventarmos situações que produzem sangue e morte. Os animais irracionais só se defendem. O poder e o dinheiro mal direcionados — por exemplo, a fabricação e vendas de armas, o interesse desonesto por riquezas naturais, tráfico de drogas, etc. — impulsionam os acontecimentos sociais e políticos desastrosos no mundo. Haja vista a política do País nas ações de corrupção generalizada.

Estamos vivendo um tempo de fazer inveja ao “Manifesto Futurista”, editado e publicado no “Le Figaro”, por Filippo Marinetti, em 1909, que tinha como fundamento a velocidade, o desenvolvimento tecnológico e as máquinas e enaltecia que “um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia”. Ora, se Marinetti e os seguidores alcançassem o que está acontecendo hoje no planeta, com a pressa característica e opressora sobre a sociedade, talvez preferissem a suposta paz coletiva dos mosteiros. O manifesto compartilhou uma modernidade nascente, que surgiu com a fúria natural desses movimentos e influenciou parte dos artistas, principalmente europeus; inclusive, no Brasil, Oswald de Andrade e Anita Malfatti foram contagiados por Marinetti e se tornaram precursores do futurismo tupiniquim, um dos impulsionadores da “Semana de Arte Moderna”, em 1922. Face ao que existe agora no âmbito da tecnologia, a leitura do texto do poeta, escritor e jornalista italiano soa como uma voz revolucionária específica da época; porque é constatado que a violência das máquinas segue no sentido inverso da arte e da reflexão. Talvez estejamos tentando encontrar um caminho que possa amenizar esses destroços da atualidade e criar um universo mais aprazível para vivermos em sentido horário e harmônico.

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