"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Sefie



Essa é a palavra mais conhecida e utilizada no planeta na atualidade. Mesmo as crianças já sabem que se refere à imagem da própria pessoa sozinha ou junto a outras, materializadas em fotografias e publicadas nas redes sociais, onde comungam caras e bocas; insinuando poder, inteligência, títulos, beleza, riqueza, amizades, capacidade falsa ou verdadeira de trabalho, felicidade, criatividade e pouquíssimo sofrimento; inclusive, da depressão e dos seus inibidores químicos não se falam. Mas com a presença intensa de álcool, geralmente bons uísques e vinhos. E os ambientes são os mais elevados, muitos do exterior, e poucos pobres nacionais, tais como restaurantes, ruas, praças, universidades, raramente livrarias, hospitais, círculos domésticos — quando também é contemplado o amor pelos animais de todas as espécies —, clubes, palácios, cerimônias variadas, igrejas, hotéis...  Bem, infinitos como o oceano da Internet, há lugares para os mais imprevistos selfies. Isso nos diverte, porque, se olharmos por um ângulo, vamos dizer freudiano, estamos tentando fazer autoanálise coletivamente.

Tudo isso não nos é estranho, a começar pela era das cavernas, em que realizávamos pinturas rupestres e éramos nós mesmos virtualmente retratados nas rochas, quando nos imaginávamos capturando os animais com dardos; assim, eram selfies em atividades, numa luta pela sobrevivência. A maioria dos pintores e escultores, principalmente a partir da Idade Média, realizou obras representando-se, ainda mais no Renascimento, em cenas históricas ou diretamente, como nos autorretratos de Da Vinci e de Rafael Sanzio. Na era moderna e contemporânea artistas se fizeram presentes em variados autorretratos. Van Gogh, Gauguin, Degas, Pissarro, Lautrec... Em seguida, Picasso, Matisse, Duchamp permitiram concretizar os selfies (autorretratos) em seu tempo. Lucian Freud e Balthus realizaram autorretratos que são leituras cruas de suas expressões. Como também Francis Bacon, na captação dos traços vigorosos do próprio rosto, em pinceladas cortantes e dramáticas. Muitos e importantes artistas analisaram sua própria face como uma das formas de autoconhecimento. Selfies sempre existiram através dos pintores e escultores em todas as épocas, mas, hoje, popularizaram-se em todo o planeta via redes sociais, como numa febre pandêmica.

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