"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Os sentidos e a arte




Para Leonardo da Vinci, o olho era o órgão que espelhava o mundo e sua beleza, que se comunicava com o cérebro, fornecendo as informações da forma, da luz e do espaço; um dos primeiros sábios a penetrar nesses detalhes que, hoje, consideramos conhecimento básico para entender a visão. E, por analisar que era uma das percepções mais completas, nomeava a pintura como superior às outras artes. Para o artista florentino, a pintura — que considerava ciência e “coisa mental” — fornecia questões mais complexas para descrever as formas, tal qual a representação da natureza, com as suas minúcias. A escultura, por exemplo, apresentava os corpos com os volumes conhecidos e as proporções, mas a pintura descrevia aqueles corpos com as sombras e luzes e os colocava sob o domínio da lei do equilíbrio e da perspectiva, ante uma paisagem ou ambiente qualquer, que demonstrava a emissão luminosa do Sol.

Já Renoir, um artista que valorizava muito as mãos, dizia que havia uma interligação direta dos nervos das mãos com o cérebro; logo ele que, da maturidade ao final de sua vida, teve uma artrite severa em todo o corpo que, principalmente, deformou as mãos, fazendo seu filho, Jean Renoir, relatar que Pierre-Auguste Renoir era para ele um mistério; não entendia como o pai pintava as obras-primas com aquela deformação. O pintor dizia que conhecia as pessoas pelas mãos, eram elas que falavam do seu caráter, “É pelas mãos que devemos julgar os recém-chegados”. E ainda dizia: “mãos burras, mãos espirituosas, mãos de cafajeste, mãos de puta...”. Acrescentava Jean Renoir: “Enquanto as pessoas olham para os olhos com o fim de conhecer melhor o semelhante, Renoir olhava suas mãos”.

Um pintor que poderíamos considerar inteiramente mergulhado na matéria da pintura, como se colasse seu próprio corpo nos pigmentos e no óleo, na tela, ou em outro suporte utilizado, era Lucian Freud (1922–2011), artista considerado britânico, nascido na Alemanha, neto do psicanalista Sigmund Freud. Afirmava que pintava um corpo até que a pele virasse carne. Seus nus eram crus, de um realismo dramático, as pinceladas intensas, como quem buscava algo mais que a simples aparência, uma representação direta do corpo. Podemos considerar sua pintura como uma linguagem ímpar no século XX e início do XXI.

Um artista delicadíssimo, refinado, que aparentava pintar só com o espírito, era Balthus (1908–2001); as obras desse pintor francês — com ascendência polonesa — passam uma reflexão de quem pensa a pintura como algo à parte do mundo prático, com um sensualismo intimista, em composições rigorosas e clássicas. A execução de suas obras era lenta, pensada, sem pressa alguma. O mínimo detalhe de um quadro era trabalhado como um universo. Um pintor do silêncio e da meditação pictórica...


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