"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand

domingo, 8 de dezembro de 2013

Camarada Bruscki



Falo de autenticidade. De originalidade perene. De raiz fincada. Bruscky foi sempre a sua própria invenção. Não poderia ser outro. Se Marcel Duchamp aparecesse, ele iria chamá-lo para um bar e conversar, simplesmente. E aí diria: “Meu camarada...”, como faz na introdução dos longos bate-papos. Não iria mudar nada em sua trajetória. As atuações de ontem permanecem renovadas, e assim segue o caminho que encontrou. Lembrando Picasso, que disse que não buscava, só encontrava. É o caso de Paulo Bruscky. É ele mesmo construindo um mundo, inventando ideias, em concepções múltiplas, desde os anos 60.

Quando, na década de 1970, o artista fazia as intervenções na cidade do Recife — o termo intervenção quase não se usava, hoje ele é bastante utilizado para designar uma das formas de arte urbana —, causava uma movimentação no centro da capital, despertando curiosidade nos populares. Os homens da ditadura militar interpretavam-nas como uma ação comunista, talvez de guerrilha urbana, por isso Bruscky algumas vezes foi preso. Tempo de coragem e de arte. Fez uma exposição coletiva na zona — termo que usávamos para identificar o belo bairro do Recife Antigo, para quem não sabe, à época, um puteiro enorme: quase todo o bairro —, no edifício  Chanteclair. Liderou a mostra e criou performances que derramavam nas escadas “sangue”, como se tivesse ocorrido uma ação criminosa ali. As putas adoraram, porque estavam numa verdadeira festa. O artista rompia, assim, a pose dos burgueses bacharelescos, que até frequentavam, na calada da noite, as namoradas prostitutas.

Bruscky é um pernambucano que ama a cidade do Recife. Impacienta-se, às vezes, quando tem que fazer viagens extensas. Aqui, frequenta os lugares, com gente simples, sem o folclore da mídia. Os mercados são as escolhas. Conhece a arte e os artistas do Nordeste e tem um arquivo precioso sobre o ambiente cultural da região e da cidade. Possui uma pasta sobre cada artista e movimento. É coautor de um livro sobre Vicente do Rego Monteiro, artista de sua admiração. Cícero Dias, quando vinha para o Recife, ligava para Bruscky a fim de convidá-lo a compartilhar um uísque numa conversa que durava horas. Num desses encontros, realizou, acompanhado por Mário Hélio, uma entrevista com o artista.

Paulo Bruscky teve um percurso de talento que ultrapassou fronteiras e, mesmo alcançando o reconhecimento nacional e internacional, prefere os mercados...    

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