"A luz na pintura de Palhano é tão vital quanto a fotossíntese no crescimento das plantas, daí por que se distancia de qualquer concepção acadêmica de mera iluminação do cenário. Essa luz invisível preexiste na tela, é embutida no seu cerne, como uma candeia fechada."
Francisco Brennand

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Universos criadores

                                                         Lucian Freud, autorretrato

A mente do artista está ligada às coisas e aos seres; dependendo da abrangência individual, será mais intensa ou menos. É nessa sintonia que se dá o tom do pensamento criador. Torna-se uma leitura pessoal e diferenciada no mundo. Dessa forma, são construídos os vários conceitos na história da arte. Os exemplos são inúmeros de criadores que emitiram uma visão própria e permitiram uma rede complexa sobre a arte. Eis uma pequena amostra.

Cézanne dizia de sua percepção: “O que tento traduzir-vos é mais misterioso, entranha-se nas próprias raízes do ser, na fonte impalpável das sensações...”. Para a época, essa interpretação era abstrata, mas antecipou o modernismo do século XX, com outra famosa visão que influenciou diretamente o cubismo: “Permita-me repetir aqui o que eu lhe dizia: abordar a natureza através do cilindro, da esfera, do cone, colocando o conjunto em perspectiva, de modo que cada lado de um objeto, de um plano, se dirija para um ponto central...”. Matisse, um dos que refletia sobre a arte, disse: “Os meios mais simples são aqueles que melhor permitem ao pintor exprimir-se...”. Por isso, os traços magníficos das figuras que criava, com linhas ondulantes que viajavam no espaço do suporte numa interpretação sintética da obra; o que o levou a dizer em outra oportunidade: “O meu desenho a traço é a tradução direta e mais pura da minha emoção...”. Dentre tantas declarações sobre o tema, Picasso nos diz: “A arte é uma mentira que nos faz compreender a verdade”. Ecoa também do século XV a voz de Da Vinci: “O pintor não é digno de louvor se não for universal”, antecipando um pensamento contemporâneo sobre o papel do artista no seu tempo.

Lucian Freud, que, apesar de nascido na Alemanha (falecido em 2011, em Londres), é considerado um dos artistas britânicos de maior repercussão na Europa e nos EUA, expressou: “Eu quero que a pintura seja carne. Para mim o quadro é a pessoa”. Esses modelos eram as pessoas de sua família ou amigos que frequentavam o seu ateliê. A pintura que realizava era trabalhada com pastas espessas de tinta e elaborada em tempos longos, às vezes, levando até anos para finalizá-la. Por sua vez, Francisco Brennand menciona Balthus em um fragmento do seu diário, publicado na “Revista Continente”, em junho de 2001, no qual afirma tê-lo conhecido jovem em 1946, quando o pintor surrealista De Chirico dizia que Balthus pretendia fazer um surrealismo à maneira de Courbet, abordagem que alguns críticos não aceitaram. A pintura de Balthus reflete um artista sábio com exímio conhecimento pictórico a ponto de induzi-lo a uma constante reflexão, representando, além de paisagem e interiores, meninas numa pura sensualidade em composições clássicas. De sua parte, o mestre Francisco Brennand disse, numa rara entrevista sobre a essência de seu próprio universo criador: “Sou um escultor que tem o coração de pintor”.

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